terça-feira, 9 de setembro de 2014

III Congresso Internacional de Futebol - 2014


III Congresso Internacional de Futebol

Semana passada tive o prazer de estar mais uma vez presente ao Congresso Internacional de Futebol em Porto Alegre, que tem como mentor o professor e preparador físico Márcio Correa. Mais uma vez o congresso ficou marcado por palestras de grande valor científico e metodológico. Foram tratados vários temas, tais quais são de extrema importância para o momento que o futebol brasileiro se encontra. Como o calendário do futebol profissional, a modernização dos estádios, o jogo de futebol como espetáculo, o legado que a copa deixou para o futebol brasileiro e principalmente a metodologia que vem sendo aplicada em nosso país. Não apenas dentro das quatro linhas, mas também fora delas.

O foco principal do Congresso e que vem sendo discutido a algum tempo, principalmente nas categorias de formação dos clubes, é a metodologia de trabalho aplica hoje no Brasil.
Depois da amostragem Copa do Mundo FIFA 2014 aonde seleções de pouca expressão no cenário mundial equilibraram forças com grandes potências, nos leva a crer que em termos metodológicos estamos devendo, levando em consideração todo nosso histórico dentro da maior competição futebolística do mundo.

No III Congresso Internacional ficou marcado por trazer profissionais de pouco destaque no futebol nacional, mas que trazem uma “nova” perspectiva metodológica, que se baseia simplesmente no jogar, e na complexidade que tal fenômeno oferece. Nomes como Bruno Pivetti que atualmente é auxiliar técnico do Guaratinguetá Futebol Ltda e Rodrigo Leitão que hoje é o técnico da Sub-17 do Corinthians. Ambos falaram sobre a aplicabilidade de seus trabalhos, baseado na Periodização Tática. Metodologia que tem como berço a Universidade do Porto em Portugal e como mentor o português Vitor Frade.  O método chamado sistêmico, não por basear seus trabalhos no sistema da equipe, mas sim por enxergar o jogo como um sistema, como um todo. O sistema é um conjunto de partes interagentes e interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com determinado objetivo e efetuam determinada função. E dessa forma baseia-se o treino. Tendo como principal objetivo o comportamento tático coletivo da equipe, deixando em um segundo plano outros aspectos inerentes ao jogo como os componentes técnicos, físicos e psicológicos.

Levando em consideração esse fato de termos treinadores emergentes como palestrantes em um congresso internacional de futebol, dentro do “país do futebol” que devemos refletir aonde estamos e aonde queremos chegar.

Isso não é uma crítica ao congresso, muito menos aos palestrantes, mas sim a todos que ainda insistem em ver barreiras entre o campo e a sala de aula, aos estudos não só ao futebol, mas também ao desenvolvimento humano. Muito conhecimento vem sendo produzido, novos métodos sendo aplicados, pequenos clubes estão fazendo ótimos trabalhos nas categorias de formação por todo o Brasil, mas as grandes referências tem podado esse crescimento pelo puro e simples desconhecimento, e também por vaidade. O futebol tem evoluído e essa evolução passa pelos profissionais que atuam nas diretrizes do trabalho, e essa mudança deve começar por ai.

Não sou defensor da aplicação da Periodização Tática no Brasil em sua plenitude, pois acredito que temos uma cultura própria e que como tal deve ser respeitada. Mas muitos fatores podem ser e devem ser aplicados ao nosso futebol. A Evolução da comissão técnica hoje, passa por esse caminho, treinadores com uma visão mais holística, vendo o jogo como um todo, e não apenas por partes. O perfil do preparador físico também mudou, pois a preocupação não deve ser apenas com questões fisiológicas, mas sim com o desenvolvimento do atleta dentro das idéias do treinador e torná-lo apto para desempenhar tais funções, em âmbito comportamental, não apenas físico. E claro sem abrir mão de todos os benefícios que as metodologias de treinamento físico nos trouxeram até o presente momento, tais como controles de treino, como intensidade e sobrecargas. Visando o desempenho coletivo da equipe.

Bom, fica aqui meus parabéns aos organizadores do congresso que estimularam muito a forma de pensar, não apenas de quem está diariamente no campo, mas principalmente de que tem a incumbência de coordenar todo um processo de formação. Seja de uma equipe de base, ou profissional.



domingo, 5 de fevereiro de 2012

AS TRANSIÇÕES NO FUTEBOL

Por Lucas Gonçalves


Olá pessoal, este texto inicia uma série de parcerias que pretendo fazer, trazer aqui para nosso espaço outras idéias e assim enriquecer nossas discussões. Nesta primeira postagem, trago a vocês um texto do técnico Lucas Gonçalves, treinador de futebol. Sua experiencia como profissional da área venho no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, aonde passou durante 5 anos por 4 categorias no clube, sempre recebendo promoções e destaque.EEm dezembro de 2010, Lucas transfere-se juntamente com o técnico Zaluar para a Associação Desportiva Cabofriense, para disputa do Campeonato Carioca 2011. Por lá, permaneceram durante 2 meses. Já no ano de 2011, o Porto Alegre Futebol Clube voltou a fazer parte do seu histórico profissional. O clube o contratou novamente como auxiliar técnico da Categoria Junior.

Além dessa breve currículo, tive a oportunidade de trabalha com ele no Grêmio, e juntos formamos muitos conceitos, dividimos e compartilhamos idéias de trabalho. Quem quiser conhecer mais o trabalho do técnico Lucas Gonçalves é só acessar o site http://www.tecnicolucasgoncalves.com/

AS TRANSIÇÕES NO FUTEBOL

"Os princípios de jogo e os sub princípios de jogo são comportamentos e padrões de comportamento que o treinador quer que sejam revelados pelos seus jogadores e pela sua equipa nos diferentes momentos do jogo. Esses comportamentos e padrões de comportamento quando articulados e entre sí evidenciam um padrão de comportamento ainda maior, ou seja, uma identidade de equipa ao qual denominamos de organização funcional. " (Guilherme Oliveira, 2003)

Antes de explanar minhas idéias, faz-se necessário entender alguns conceitos citados pelo autor acima ao denominar organização funcional. Quando falamos em diferentes momentos do jogo, sabemos que o jogo está divido em 4 deles os quais entendo, de modo geral, desta maneira:

  1. Organização Defensiva : momento em que a equipe não possui a bola e através de seus princípios e sub princípios organiza-se para evitar gol da equipe adversária.
  2. Organização Ofensiva: momento em que a equipe possui a bola e através de seus princípios e sub princípios organiza-se para marcar gol na equipe adversária.
  3. Transição Defensiva-Ofensiva: exato instante em que a equipe recupera a bola até o momento em que está organizado ofensivamente, através de seus princípios e sub princípios.
  4. Transição Ofensiva-Defensiva: exato instante em que a equipe perde a posse de bola até o momento em que está organizado defensivamente, através de seus princípios e sub princípios.


No futebol atual a importância das transições está cada vez mais presente dentro do modelo de jogo em cada equipe. Em geral, a transição determina o quanto a organização em seqüência será eficiente. Mais do que isso, uma equipe pode dentro de uma partida antecipar algumas ações ou metas de seus princípios através de transições bem definidas.


Porém, o que tenho visto de modo geral nos jogos do Campeonato Gaúcho deste ano, tem me surpreendido de forma negativa em relação a este assunto. Poucas equipes realmente demonstram um padrão de comportamento no que se refere a transições. Isso tem acarretado em dificuldades para as mesmas quando estão organizadas defensiva e ofensivamente. Como consequência, os jogos tem sido muitas vezes desinteressantes no plano tático.

Como não existe padrão nestes momentos, acabamos nos deparando com uma grande mistura de princípios dentro de uma mesma transição. Muitas vezes essa variedade faz com que uma ação seja completamente oposta a outra, gerando um conflito de idéias dentro de um mesmo modelo de jogo. As situações mais vistas nas partidas que tenho assistido até então são:

Transição Defensiva-Ofensiva: erro na escolha da jogada principalmente quando se está sofrendo pressão na zona da bola. Normalmente a opção adotada é de acelerar a jogada de forma vertical, além de não trocar de corredor. Quando a situação é inversa, as equipes não tem aproveitado para dar velocidade ao passe e colocar-se em superioridade numérica.

Transição Ofensiva-Defensiva: divergência de escolhas entre setores da equipe.Enquanto algum setor opta por pressionar imediatamente a zona onde a bola foi perdida, outro setor decide organizar-se defensivamente. Fica claro que estas decisões não são pré-determinadas em treinamentos ou palestras. Isso fica mais preocupante quando as discordâncias são de indivíduos do mesmo setor. Além disso, o simples ato de transição de alguns jogadores (normalmente meias ofensivos e atacantes) não acontecem. Como consequência a equipe fica descompacta e com um menor número de jogadores participando da organização defensiva.

Quero deixar claro que as análises em questão não evidenciam a falta de transições nos jogos, mas muito pelo contrário. O que temos visto são jogos com uma enormidade de momentos de transição. A crítica é como os times estão agindo em relação a isso, mostrando enormes dificuldades. O que deixa isso muito marcante aos nossos olhos são aqueles instantes onde as equipes se repartem em duas e os jogos viram praticamente seqüência de contra ataques desorganizados. Acima foram citadas apenas algumas "desorganizações" vistas. Isso nos faz refletir onde estaria a origem do problema. Poderia ser a falta de tempo que as equipes tem para se preparar? 

Por outro lado então deveriam reavaliar os planejamentos e elencar prioridades, já que esse problema é por muito tempo sabido no futebol brasileiro. Seria então a falta de entendimento dos atletas aos modelos de jogo? Então deveríamos talvez melhorar a didática de treinamentos e rever os estímulos dados aos jogadores no período de base. Seria a falta de importância dada pelos comandantes a estes dois imprescindíveis momentos do jogo? Ou o problema é mais grave e os treinadores não estão capacitados o suficiente. Fica então a reflexão para discutirmos e identificarmos dificuldades. 

Só assim poderemos construir novos conhecimentos e evoluir na mesma velocidade do futebol atual.

Lucas Gonçalves - Técnico de Futebol

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

MUDANÇA DE FILOSOFIA NO FUTEBOL DE BASE

Acompanho o professor Fabio a algum tempo, e temos uma conjunção de idéias muito grande, este texto  vem ao encontro do que tenho postado nos últimos meses aqui no Performance, espero que gostem e acompanhem o trabalho do professor Fábio Aires da Cunha - http://www.fcunha.com.br


MUDANÇA DE FILOSOFIA NO FUTEBOL DE BASE

Fabio Aires da Cunha
O exemplo do Barcelona pode nos ensinar uma lição. Quando Guardiola, técnico da equipe catalã, disse em entrevista coletiva após a final do mundial interclubes: “... o que tentamos é passar a bola a um companheiro o quanto antes possível... o que o Brasil fazia, segundo o que contam meus pais e meus avós, desde sempre.”, nos transmite um misto de orgulho e vergonha.

Se os espanhóis, que unanimemente jogam o melhor e o mais bonito futebol apresentado por uma equipe no mundo, mostram um jogo de toque de bola, passes rápidos e jogadas bonitas, por que nenhuma equipe brasileira ou a Seleção conseguem repetir essa forma de jogar?

A desculpa de que o Barcelona é um clube rico e, assim, contrata grandes jogadores, aqui não serve, pois 8 ou 9 jogadores do time titular foram formados em sua categoria de base.

Alguns usarão como desculpa que a equipe catalã joga há muitos anos junta e então os jogadores tem um bom entrosamento. Isso é um aspecto que ajuda, com certeza, mas que sozinho não justifica esse resultado.
A grande explicação é a formação de base.

O clube espanhol possui uma filosofia clara e bem definida para a formação dos seus atletas. No lado técnico a preocupação é formar um atleta com qualidade técnica, com os fundamentos bem desenvolvidos e afirmados. No aspecto tático o objetivo é montar equipes coesas que mantém a posse de bola, que troquem passes em velocidade e, principalmente, jogadores solidários e comprometidos com o coletivo.

Não quero aqui valorizar o Barcelona, mas sim a filosofia adotada, uma filosofia que se preocupa com a formação completa do jovem atleta e não com o resultado imediato.

O mais incrível é que o trabalho bem feito, bem planejado, que respeita o desenvolvimento maturacional, que respeita as características de cada faixa etária, acaba trazendo, também, resultados esportivos a curto e médio prazo.
Devemos mudar a filosofia da formação de base no Brasil. Os clubes devem primeiro colocar dirigentes capacitados que não pressionem jogadores e técnicos por resultados esportivos. Em segundo lugar, devem contratar técnicos e demais membros da comissão técnica com qualificação profissional, que entendam de crescimento, maturação e desenvolvimento motor e que trabalhem os garotos pensando no futuro como atletas e cidadãos. Em terceiro lugar, o clube deve investir na infraestrutura e nas condições para que os treinamentos ocorram de forma científica e profissional, pois a estrutura é fundamental.

Destaco que desses pontos o principal é a qualificação dos profissionais que atuam no dia a dia com os jovens atletas. Necessitamos de técnicos mais qualificados nas categorias de base.

Quando o futebol brasileiro se atentar para esses pontos e para essa realidade, voltaremos a revelar craques em quantidade. Não podemos mais viver de um ou outro grande jogador que surja mais por sorte do que por trabalho bem feito.

Com isso, ganham os clubes, a Seleção, os torcedores, os atletas e o futebol brasileiro. Poderemos assim ver não apenas um Barcelona, mas sim inúmeros times apresentando um futebol vistoso e competitivo como vimos na manhã daquele 18 de dezembro de 2011 durante a final do mundial interclubes.

Acessado em 19/01/2012
http://www.fcunha.com.br/artigo/Mudan%C3%A7a%20de%20filosofia%20no%20futebol%20de%20base.htm