sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A culpa é do preparador físico

Pode parecer oportunimo, mas o resultado após o apito final do mundial de clubes de 2011 já era esperado por um grande números de pessoas, não torcedores comuns, mas sim pessoas que conseguem visualizar que o futebol brasileiro está parado no tempo quando o assunto é organização tática e metodologia de treino e formação de jogadores. Final do jogo do dia 18/12/2011, vimos o Barça fazer o que sempre faz, momentos do jogo bem definidos, agressividade na marcação, compactação, pressão sobre o portador bola em todos os setores do campo, e quando retomam a posse o campo fica imenso. E vimos também o Santos tentar fazer o que faz aqui no Brasil, time sem compactação, jogadas ofensivas baseadas em um ou dois jogadores e nenhuma pressão na bola. O resultado de Barcelona 4x0 Santos é a total realidade da diferença entre o Brasil e a Espanha e outros países europeus. Mas porque?

Fonte www.flamengorj.com.br

O Brasil é o país que mais possui títulos mundiais em copas do mundo, somos a única seleção que esteve presente em todas as copas, somos o pais que mais exporta jogadores para o mundo todo, e ainda todos os anos temos jogadores brasileiros entre os melhores do mundo, nos últimos anos um pouco menos, mas quase sempre estão presentes. Todos estes fatores contribuiriam para que outros países evoluíssem em termos táticos e principalmente em termos metodológicos. Mas será que nosso futebol parou no tempo? Não, seguindo uma linha educacional nosso futebol andou junto com evolução de nossos professores, e na década de 80 um membro da comissão técnica ganha força, o preparador físico. Seguindo a evolução da fisiologia, e principalmente a fisiologia do exercício os componentes físico se tornaram a principal preocupação de muitos clubes no Brasil e no mundo. Tivemos a resistência aeróbia, corridas contínuas, treinos de força, intervalados o VO2max, limiares de lactato, plataformas de força, CK, ureia, TGO, GPSs, e....... Uma série de controles físico, que seguindo um modelo Russo até hoje ditam os rumos da periodização no Brasil. Está errados? Não, a preparação física evoluiu, muito, a medicina esportiva evoluiu muito, a nutrição evoluiu, bastante, a fisioterapia evoluiu, mas e os aspectos táticos? 

Para mim fica claro, todas essas áreas cresceram por que os profissionais destas áreas evoluíram, buscaram conhecimento, estudaram as necessidades dos jogadores, analisaram as especificidades de cada função, lesão e tipo de nutrição para determinado momento da competição e objetivo, mas e a parte tática. Tivemos por muito tempo, e ainda temos "profissionais" sem capacitação a frente de equipes, a frente de jovens jogadores que precisam de muita informação, e não apenas de gritos  de "vamo" e "vamo".

Mas então qual a saída? Muitos acham que devemos apagar nossa história, e começar do zero, sendo mais direto, alguns radicais querem colocar a culpa da irresponsabilidade e incompetência de treinadores e dirigentes amadores nos preparadores físicos, pois estes tem como conceito de que o treinamento físico, desadapta os jogadores de uma percepção que é coletiva. Na verdade não é a preparação física que trava uma melhora metodológica brasileira, mas sim a falta de uma construção tática ao longo dos anos de formação nas categorias de base dos clubes. Penso que devemos agora, aproveitar toda a evolução das áreas biológicas (Física, Fisiologia, Fisioterapia, Nutrição e Psicologia) para tentarmos alcançar melhores resultados em níveis táticos, que por muitos anos não apresenta evolução alguma.

O Brasil parece ter acordado, parece ter percebido que além de nossos talentos individuais, podemos ter um pouco mais de valor coletivo, e quem sabe os treinadores podem aprender mais com seus colegas fisiologistas, fisioterapeutas e também com seu fiel escudeiro, o preparador físico. Sem contar que temos grande treinadores brasileiros que iniciaram como preparadores físicos, posso citar, Carlos Alberto Parreira, Otacílio Gonçalves e Celso Roth são alguns exemplos. Se muitos treinadores tivessem a metade da organização dos preparadores físicos, fisiologistas, nutricionistas e fisioterapeutas o futebol brasileiro estaria muito mais a frente, e evoluído.


Devemos construir uma metodologia que atenda todas as necessidades dos nossos atletas, necessidades que são culturais. Aliás, esse é o segredo dos nossos super talentos, nossa cultura, nossos filhos saem da maternidade vestidos com as cores de dos nossos times de coração, e com o primeiro brinquedo dentro da sacola das fraldas, a bola.






segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Era a isso que eu me referia!




A algum tempo algumas pessoas vêm tentando abrir os olhos do meio futebolistico brasileiro sobre as mudanças que estão acontecendo no mundo do futebol. Um resultado como o da final do mundial de clubes era necessário para que os olhos de todos podessem ver que não podemos mais depender de individualidades. Mas, por favor, a solução não é tirar xerox do Barça.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pequenos Clubes, Grandes Resultados.

Final da SC CUP 2011 Audax-SP x Atletico-PR. É cada vez mais comum ver em finais de competições de base, nomes novos, nomes que a torcida de grande clubes não estavam acostumados. Em muitos torneios de categorias de base os grandes clubes, clubes de massa, que sempre tiveram hegemonia de conquistas e até mesmo de participação em grandes torneios de base. Clubes pequenos, ou clubes formadores vêm ocupando um espaço de destaque no cenário de formação de jogadores no Brasil e no mundo. Clubes estas que possuem estrutura, objetivos e em alguns casos metodologia de trabalho, muitas vezes projetos de formação baseados em clubes europeus.

O futebol brasileiro passa por um momento de reflexão, principalmente em suas categorias de base, ficamos tanto tempo parados quando se diz respeito a metodologias de treino. Por muitos anos, e ainda hoje, a preocupação dos treinos era, na maioria das vezes, voltada a individualidade, tanto em aspectos físicos como em questões táticas. Situações como, sobra de marcação, marcação individual, bola quebrada no nº9 foram preocupações prioritárias de muitos treinadores. E questões coletivas, de entendimento de jogo, como percepção, análise e definição de comportamentos dentro do jogo não faziam parte do treino. Muitas vezes pelo simples fato do não conhecimento destes fatores por treinadores e/ou por enxergarem o jogo como pequenas frações de 1x1.

Fonte: Google Images
O que temos hoje são jogadores formados ou descobertos? Jogadores que talvez se tornassem jogadores por puro talento individual. Por muitos anos e ainda hoje temos a valorização extrema do individualismo. E por essa infindável disponibilidade de talentos, de jogadores e de títulos o Brasil não evoluiu na questão metodológica. Nossos jogadores são mais frutos de nossa cultura futebolística do que de um sistema de formação eficiente, que busque a valorização do atleta como um todo, que pensa, analisa e executa ações em frações de segundos dentro de um ambiente complexo e coletivo.

Uma onda metodológica vem ganhando tamanho e força, uma visão mais sistêmica, que busca uma formação mais abrangente do jogador. Tendo como objetivo a união dos componentes táticos, técnicos, físicos e psicológicos do atleta. Representada pela Periodização Tática essa onda que se difundiu em Portugal, com conceitos holandeses está tomando força no Brasil.

Nos grandes clubes uma mudança metodológica muitas vezes é muitas vezes castrada pela falta de profissionalismo de direções amadoras que não respeitam na maioria das vezes individualidade de cada atleta, nem um seqüência metodológica que não valorize apenas as vitórias e os títulos nas categorias de base, o que é fato comum no cenário futebolístico nacional, Mas por que os clubes escolas vem conseguindo melhores participações em torneios de base, pós é um ambiente aonde os profissionais encontram melhores condições para uma mudança metodológica. A busca pelo resultado ela fica em segundo plano, a formação é a prioridades, formar para que um de seus jogadores chegue a um grande clube, então a formação é priorizada. A pressão de dirigentes e torcedores por títulos é menor e até mesmo a influencia da empresa é maior, pois com a internet a cobertura é cada vez maior, através de blogs e sites especializados em categoria de base e futebol regional. Outro fator importantíssimo que propicia uma aplicabilidade metodológica em clubes formadores é o tempo para o desenvolvimento, em clubes grandes a gestão de presidentes é de dois anos, em clubes formadores o um tempo maior ou em alguns o casos o clube tem um dono, então a metodologia segue sendo aplicada.

Outro passo para que continuemos não tendo uma metodologia consistente é o radicalismo de idéias, o confronto de idéias que temos hoje em desenvolvimento no país. Não teremos um processo de formação consistente que supra todas as necessidades de nossos atletas se copiarmos metodologias já existes. Não é culpa da preparação física que nossos atletas são na sua maioria pobres taticamente, pobres na resolução de problemas complexos dentro do jogo. É comum jogar a culpa da falta de uma organização tática de uma equipe sem princípios de jogo na valorização dos componentes físicos.  Precisamos usar o que temos de melhor nas características que o Brasil já possui e complementar com novas idéias, idéias estas que são necessidades de mercado, tanto interno, como externo do futebol na formação de novos jogadores. O mercado não está aberto apenas para craques, mas também para bons jogadores, com um bom entendimento de jogo, boa qualidade técnica, física e psicológica.

É claro que esta construção não acontece de um dia para o outro. A mudança é um processo longo, e gradual que exige dos clubes, uma programação metodológica ao longo de vários anos.