domingo, 5 de fevereiro de 2012

AS TRANSIÇÕES NO FUTEBOL

Por Lucas Gonçalves


Olá pessoal, este texto inicia uma série de parcerias que pretendo fazer, trazer aqui para nosso espaço outras idéias e assim enriquecer nossas discussões. Nesta primeira postagem, trago a vocês um texto do técnico Lucas Gonçalves, treinador de futebol. Sua experiencia como profissional da área venho no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, aonde passou durante 5 anos por 4 categorias no clube, sempre recebendo promoções e destaque.EEm dezembro de 2010, Lucas transfere-se juntamente com o técnico Zaluar para a Associação Desportiva Cabofriense, para disputa do Campeonato Carioca 2011. Por lá, permaneceram durante 2 meses. Já no ano de 2011, o Porto Alegre Futebol Clube voltou a fazer parte do seu histórico profissional. O clube o contratou novamente como auxiliar técnico da Categoria Junior.

Além dessa breve currículo, tive a oportunidade de trabalha com ele no Grêmio, e juntos formamos muitos conceitos, dividimos e compartilhamos idéias de trabalho. Quem quiser conhecer mais o trabalho do técnico Lucas Gonçalves é só acessar o site http://www.tecnicolucasgoncalves.com/

AS TRANSIÇÕES NO FUTEBOL

"Os princípios de jogo e os sub princípios de jogo são comportamentos e padrões de comportamento que o treinador quer que sejam revelados pelos seus jogadores e pela sua equipa nos diferentes momentos do jogo. Esses comportamentos e padrões de comportamento quando articulados e entre sí evidenciam um padrão de comportamento ainda maior, ou seja, uma identidade de equipa ao qual denominamos de organização funcional. " (Guilherme Oliveira, 2003)

Antes de explanar minhas idéias, faz-se necessário entender alguns conceitos citados pelo autor acima ao denominar organização funcional. Quando falamos em diferentes momentos do jogo, sabemos que o jogo está divido em 4 deles os quais entendo, de modo geral, desta maneira:

  1. Organização Defensiva : momento em que a equipe não possui a bola e através de seus princípios e sub princípios organiza-se para evitar gol da equipe adversária.
  2. Organização Ofensiva: momento em que a equipe possui a bola e através de seus princípios e sub princípios organiza-se para marcar gol na equipe adversária.
  3. Transição Defensiva-Ofensiva: exato instante em que a equipe recupera a bola até o momento em que está organizado ofensivamente, através de seus princípios e sub princípios.
  4. Transição Ofensiva-Defensiva: exato instante em que a equipe perde a posse de bola até o momento em que está organizado defensivamente, através de seus princípios e sub princípios.


No futebol atual a importância das transições está cada vez mais presente dentro do modelo de jogo em cada equipe. Em geral, a transição determina o quanto a organização em seqüência será eficiente. Mais do que isso, uma equipe pode dentro de uma partida antecipar algumas ações ou metas de seus princípios através de transições bem definidas.


Porém, o que tenho visto de modo geral nos jogos do Campeonato Gaúcho deste ano, tem me surpreendido de forma negativa em relação a este assunto. Poucas equipes realmente demonstram um padrão de comportamento no que se refere a transições. Isso tem acarretado em dificuldades para as mesmas quando estão organizadas defensiva e ofensivamente. Como consequência, os jogos tem sido muitas vezes desinteressantes no plano tático.

Como não existe padrão nestes momentos, acabamos nos deparando com uma grande mistura de princípios dentro de uma mesma transição. Muitas vezes essa variedade faz com que uma ação seja completamente oposta a outra, gerando um conflito de idéias dentro de um mesmo modelo de jogo. As situações mais vistas nas partidas que tenho assistido até então são:

Transição Defensiva-Ofensiva: erro na escolha da jogada principalmente quando se está sofrendo pressão na zona da bola. Normalmente a opção adotada é de acelerar a jogada de forma vertical, além de não trocar de corredor. Quando a situação é inversa, as equipes não tem aproveitado para dar velocidade ao passe e colocar-se em superioridade numérica.

Transição Ofensiva-Defensiva: divergência de escolhas entre setores da equipe.Enquanto algum setor opta por pressionar imediatamente a zona onde a bola foi perdida, outro setor decide organizar-se defensivamente. Fica claro que estas decisões não são pré-determinadas em treinamentos ou palestras. Isso fica mais preocupante quando as discordâncias são de indivíduos do mesmo setor. Além disso, o simples ato de transição de alguns jogadores (normalmente meias ofensivos e atacantes) não acontecem. Como consequência a equipe fica descompacta e com um menor número de jogadores participando da organização defensiva.

Quero deixar claro que as análises em questão não evidenciam a falta de transições nos jogos, mas muito pelo contrário. O que temos visto são jogos com uma enormidade de momentos de transição. A crítica é como os times estão agindo em relação a isso, mostrando enormes dificuldades. O que deixa isso muito marcante aos nossos olhos são aqueles instantes onde as equipes se repartem em duas e os jogos viram praticamente seqüência de contra ataques desorganizados. Acima foram citadas apenas algumas "desorganizações" vistas. Isso nos faz refletir onde estaria a origem do problema. Poderia ser a falta de tempo que as equipes tem para se preparar? 

Por outro lado então deveriam reavaliar os planejamentos e elencar prioridades, já que esse problema é por muito tempo sabido no futebol brasileiro. Seria então a falta de entendimento dos atletas aos modelos de jogo? Então deveríamos talvez melhorar a didática de treinamentos e rever os estímulos dados aos jogadores no período de base. Seria a falta de importância dada pelos comandantes a estes dois imprescindíveis momentos do jogo? Ou o problema é mais grave e os treinadores não estão capacitados o suficiente. Fica então a reflexão para discutirmos e identificarmos dificuldades. 

Só assim poderemos construir novos conhecimentos e evoluir na mesma velocidade do futebol atual.

Lucas Gonçalves - Técnico de Futebol







Um comentário:

  1. Amigo,
    Não há, na cultura de treinamento do futebol gaúcho profissional do interior, esse tipo de separação das fases do jogo e por consequência não há um método de treinamento neste sentido...
    A qualidade dos treinadores têm melhorado mas não na mesma velocidade que se produz conhecimento a respeito do tema...Esta defasagem é natural, não surpreende, o que surpreende é o tamanho dela! Abraço, Marcos Tavares - Preparador Físico.

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