quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Barcelona, o triunfo de uma filosofia

Olá pessoal, após o II Seminário de Futebol realizado no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, em uma parceria com a Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, aonde se falou muito com uma grande riqueza de detalhes sobre a formação de atletas, sobre as categorias de base. E como não poderia deixar de ser, o clube referência hoje em formação, o Barcelona foi o ponto principal dos debates. Então ao elaborar uma pesquisa, achei uma reportagem no site português Relvado, aonde Gonçalo Moreira, autor da matéria, em dezembro de 2010 apontava "La Masia" com um dos fatores para o sucesso do equipe catalã. La Masia atualmente é um dos, ou senão, o mais moderno centro de formação de jogadores de futebol, que associada ao método de treino aplicado no Barça mostra-se uma fábrica de craques, que esse ano tem três jogadores indicados para a bola de outo.
Minha intenção era reproduzir alguns trechos do texto, mas gostei muito da reportagem e resolvi mostra-la na integra. Abraço a todos e boa leitura.

http://relvado.aeiou.pt/diversos/barcelona-triunfo-uma-filosofia

La Masía é por estes dias tema de conversa no planeta futebol, embora poucos saibam o que é, onde fica e como funciona. Partimos por isso à descoberta da fábrica de talentos do Barcelona, que este ano colocou Xavi, Iniesta e Messi como finalistas da Bola de Ouro.
Explicar o futebol do Barcelona é ir a La Masía, nome da residência onde vivem dezenas de jovens jogadores do clube catalão. Mas afinal o que é uma Masía? Este é um termo utilizado para designar uma típica casa rural, um ambiente que poucos esperam encontrar na zona urbana de Barcelona, mas que sucessivas direcções culés procuraram preservar ao longo dos últimos 30 anos e que de certa forma contribui para o misticismo do local.
La Masía - Academia do BarcelonaA Masía de Can Planes, nome do lar onde vivem actualmente 58 jovens, foi originalmente comprada pelo clube em 1979 para servir de gabinete aos arquitectos que projectaram o Estádio Camp Nou e mais tarde convertida pelo presidente Josep Lluís Núñez na casa das futuras estrelas do clube catalão. Toda a propriedade “cheira” a Catalunha. A traça original e o ambiente acolhedor são perfeitos para que os miúdos se sintam o mais em casa possível, tendo em conta que a maioria se encontra longe das respectivas famílias.
Como se vive em La Masía?
Para quem entra esta é uma casa como tantas outras, com a diferença de que aí vive uma grande família, a blaugrana. Com uma cozinha pequena e várias salas comuns onde se joga de tudo um pouco, esta é uma residência de portas abertas, mas onde as crianças são controladas por responsáveis do clube.
Os dias são passados de forma normal, ora com momentos de estudo, ora com actividades de ócio puro, como manda a idade dos residentes. O bónus para estas crianças é o facto de poderem treinar numa das melhores escolas de futebol do mundo.
Para os atletas que entram no templo sagrado da formação culé o sentimento catalão é algo extra, que vai crescendo com o tempo. Beijar o escudo, apontar para o emblema, são gestos comuns nos campos de futebol de todo o mundo, mas que na Catalunha ainda têm significado, especialmente por todo o sentimento de autonomia (a roçar a independência) que se vive na região em relação ao poder central, que na vertente desportiva é personificada pelo arqui-rival Real Madrid.



Regras a cumprir em La Masía
Nas paredes desta casa abundam as fotografias de miúdos, equipas, memórias de um passado recente que marcam a actualidade do futebol contemporâneo. As feições de criança não enganam e da turma de 1996 podem distinguir-se Andrés Iniesta, Victor Valdés, Pepe Reina e Carles Puyol - todos eles campeões do mundo na África do Sul.
Iniesta e Albert Benaiges (Formação do Barcelona): LusaA história de Iniesta é curiosa porque aos 12 anos esteve a ponto de assinar com o Real Madrid, o que não aconteceu porque os pais do jovem Andrés não queriam o filho a viver em Valdebebas, centro nevrálgico dos merengues que se localiza num subúrbio da capital. Em Barcelona, por outro lado, a família Iniesta encontrou um ambiente familiar e tranquilo para que o filho pudesse crescer como jogador, mas sobretudo como homem.
Um dos responsáveis pela ida de Iniesta para o Barcelona foi Albert Benaiges, coordenador do futebol jovem culé, que está para os catalães como Aurélio Pereira está para o Sporting. Ambos valem ouro e no caso de Benaiges a filosofia é simples quanto à evolução de um jogador de futebol: “numa primeira fase, dos iniciados para baixo, privilegiamos a formação pessoal antes do futebol. Na segunda iniciamos o chamado aperfeiçoamento, aí deve competir-se bastante, ainda que sem perder de vista a formação pessoal, porque nunca se sabe o que pode acontecer”, explica o homem forte das camadas jovens dos catalães ao site futbolbalear.es. 
Made in Barcelona
Competir, competir, competir. A partir de uma certa idade, a palavra de ordem no Barcelona é para jogar, fomentando sempre o contacto com a bola e um estilo de jogo vincadamente ofensivo, que está institucionalizado e que vem de baixo para cima. Esta filosofia é a origem do jogo bonito blaugrana, o chamado tiki-taka, um estilo de futebol que seduz, inspira, choca e que já está a marcar uma nova era do futebol mundial.
A aposta na formação é uma visão de futuro, que pretende vir a estabelecer a médio prazo um plantel com 65 por cento de jogadores provenientes das bases. No entanto, o facto de ter tido uns últimos anos vintage, faz com que o processo esteja acelerado e que no Clássico frente ao Real Madrid (5-0), Pep Guardiola tenha colocado em campo 10 jogadores da formação, sendo que oito foram titulares (Valdés, Piqué, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta, Pedro, Messi).
Com esta premissa em mente, o Barcelona forma com qualidade mas não tem maneira de absorver tudo o que produz, pelo que se tornou um importante centro de exportação de talentos para as melhores Ligas da Europa. Só esta temporada, são 41 os jogadores que actuam nas divisões de topo e que saíram de La Masía, como aconteceu há alguns anos com o central Gerard Piqué, que ingressou nos catalães aos 10 anos, saiu para o Manchester aos 17 e que entretanto regressou com 21 anos para ocupar um lugar no eixo da defesa.
Cesc Fabregas (Arsenal): wikimediaO chamamento provocado pelo orgulho catalão é algo difícil de explicar, mas que deve ser tido em conta. Um dos rumores mais fortes do mercado de transferências é o interesse que o Barça tem em recuperar uma pérola que lhe foi “roubada” precocemente: Cesc Fabregas. O médio esteve na Catalunha até aos 16 anos, quando foi recrutado de forma hostil por outro clube inglês, o Arsenal. Os Gunners resistiram para já a uma primeira abordagem do Barcelona, mas será inevitável que no futuro Fabregas volte ao ponto de partida, quem sabe mesmo se para assumir as funções de Xavi (que está com 30 anos) no meio-campo.
Mas como fazer a transição entre as camadas jovens e o plantel profissional? A resposta reside na sensibilidade e no acompanhamento que é feito por parte do treinador da equipa principal, uma das principais características de Pep Guardiola, ele próprio um produto saído de La Masía. Essa atitude de querer aproveitar o que sai da formação é típica de um homem que passou por todas as fases do processo: foi aluno, jogador, referência e é agora professor. Sem esta capacidade que Guardiola revela de querer maximizar os recursos da casa, torna-se mais difícil produzir talentos, que naturalmente precisam de tempo para crescer.
La Masía do Século XXI
A pensar no futuro está já em marcha a nova residência para jovens, um moderno centro localizado em Sant Joan Despí, a 5 km do Camp Nou, onde foi criada recentemente a Cidade Desportiva Joan Gamper, local de treino diário de todos os escalões do futebol barcelonista. O novo edifício será bem diferente do actual e vai aumentar em termos de capacidade, passando a contar com 82 quartos múltiplos, num total de 6000 metros quadrados (actualmente dispõe de apenas 600 m²).
Orçamentada em cerca de 8/9 milhões de euros, esta Masía moderna pretende fomentar o relacionamento entre os vários funcionários do clube, especialmente entre jogadores dos vários escalões. A blindagem psicológica dos craques é crucial e por isso desde cedo que os mais novos vêem como os profissionais convivem diariamente com a pressão de adeptos, média e todos os interesses que gravitam à volta do planeta futebol.
Para trás ficam 30 anos de um trabalho que já ganhou um lugar na história do futebol e que promete continuar, agora numa versão reciclada. Depois da primeira Bola de Ouro conquistada por Leo Messi em 2009, a formação blaugrana voltará este ano a festejar, quando for anunciado o vencedor a 10 de Janeiro. Xavi, Messi ou Iniesta? Independentemente de quem vier a ganhar, é a filosofia do Barcelona que está a ser premiada.
Fotos: Lusa (1 e 3) e wikimedia (2 e 4)

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